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Débora Miranda

Aos 33 anos, Daniele Hypolito busca sua sexta Olimpíada

Débora Miranda

14/02/2018 05h00

Daniele Hypolito fez história como a primeira brasileira a conquistar uma medalha em um Mundial de Ginástica Artística, em 2001, quando faturou a prata –momento que ela considera o mais importante de sua carreira. Agora, aos 33 anos, quer conquistar uma vaga em sua sexta Olimpíada. Incansável, segue treinando pesado e com a determinação de quem sabe que pode estar em Tóquio-2020.

(Reprodução/Instagram)

"Como a ginástica tem fama de ser um esporte de novinhos, algumas pessoas tendem a achar que eu, por ter 33 anos, estou velha e preciso me aposentar. E não é isso. É claro que tem cuidados que eu preciso tomar, mas meu corpo está bem e responde aos treinamentos, que ainda têm a mesma intensidade."

Ela conta que treina em torno de seis horas por dia, de segunda a sábado. "A ginástica não tem muito segredo. Você tem que treinar, treinar e treinar", diz Daniele, que começou na modalidade aos 4 anos e meio, inspirada pela romena Nadia Comaneci, a primeira a ganhar uma nota dez na história, e pela brasileira Luísa Parente.

Mais recentemente, outros ídolos da atleta viraram assunto na imprensa mundial. Cerca de 120 ginastas e ex-ginastas da seleção norte-americana se reuniram para denunciar o médico da equipe olímpica Larry Nassar –que, estima-se, pode ter abusado de aproximadamente 400 mulheres. "Esse caso é muito delicado. Sabemos que coisas assim acontecem, mas nunca esperamos que seja perto de nós. Fiquei muito chocada, porque são meninas de quem sou fã, atletas campeãs, por quem tenho muita admiração", afirma. "E apesar de terem passado por tudo isso, continuaram representando o país delas tão bravamente."

Sobre casos semelhantes no Brasil, ela diz que nunca ouviu falar. "Olha, vou te dizer que sou uma pessoa que fica mais distante, não tenho tanto contato com outras pessoas da ginástica. Então, se já aconteceu algo assim, de verdade eu não sei", declara. Mas Daniele afirma que é essencial manter o diálogo sobre o tema, especialmente com as atletas mais jovens. "A comunicação é muito importante, especialmente porque isso não acontece só no esporte. É preciso cuidado e orientação. Isso acontece com atletas, com crianças e também com homens. É muito sério, assédio é muito grave."

Crise depois da Rio-2016

Daniele revela que a ginástica artística brasileira teve um crescimento muito grande nos últimos anos, mas que nem por isso as dificuldades diminuíram. "Os atletas que competiram na Rio-2016 acharam que haveria uma mudança radical no esporte dentro do Brasil após a Olimpíada. E não foi o que aconteceu. Pelo contrário. Tem muita gente perdendo patrocínio, deixando o esporte por falta de verba para continuar treinando. Eu ainda dei muita sorte de ter patrocínios que se mantiveram, mas a realidade dos atletas está muito difícil."

A situação não é nova para ela. Daniela lembra que a histórica medalha para o Brasil em 2001, na Bélgica, só veio graças ao apoio do jogador Ronaldo Fenômeno. "O Flamengo, onde eu treinava na época, estava passando por uma situação muito difícil, e eu precisava de verba para para ir ao Mundial. Naquele momento, quem me ajudou foi o Ronaldo, sem perguntar por que nem para quê. Foi uma honra muito grande."

Mesmo com tantas dificuldades, Daniele diz que o Brasil conta com uma nova geração de ginastas bem promissora. "Temos uma safra de, ao menos, umas 20 meninas que vêm muito bem. O nosso objetivo na seleção é ter sempre melhores resultados, com o trabalho de todos. O meu, hoje em dia, talvez até já seja um pouco diferente. Hoje, na verdade, eu não me vejo só como atleta, mas como uma pessoa que é exemplo de perseverança e de longevidade na ginástica. Às vezes, o esporte não é só uma vitória numa competição, mas a vitória de poder estar treinando e fazendo o que você ama. De poder compartilhar experiências."

Superação no esporte

Daniele diz que o esporte transformou sua vida pois a ensinou a "conviver com pessoas". "O esporte é o maior meio social que existe. Não tem raça, cor, não tem nada. O que existe é aquela área de competição, em que você tem que defender seu país e aquilo em que você acredita, de maneira saudável. É uma maneira bonita de lutar pelo que você acredita", afirma. Ela ainda completa: "Além disso, o esporte te ensina a lutar e a não desistir tão facilmente. Você leva uma rasteira, tem que levantar e continuar lutando".

A ginasta põe em prática essa ideologia também fora da ginástica, em seu dia a dia. Ela conta que, vez ou outra, tem que lidar com comentários preconceituosos nas redes sociais, mas que tenta administrar isso da melhor forma. "Muitas pessoas se escondem pelo anonimato da internet. Falam muita coisa, e alguns comentários se referem ao meu corpo. Há quem ache que ele é masculinizado. O meu corpo é definido pelo esporte que eu pratico, apenas isso. Mas  tenho esse lado da razão que não me deixa estressar com essas coisas, não. Procuro respeitar todo o mundo."

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?