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Débora Miranda

Exemplo na luta por igualdade no futebol, time dos EUA processa federação

Débora Miranda

09/03/2019 04h00

Elas são tricampeãs do mundo, tetracampeãs olímpicas e estão há anos lutando por equidade salarial e de condições de trabalho. Pois todas as 28 jogadoras da seleção feminina de futebol dos EUA decidiram entrar na Justiça ontem, no Dia Internacional da Mulher, contra a federação nacional de futebol acusando-a de discriminação de gênero.

Jogadoras da seleção americana de futebol feminino (Reprodução/Instagram/@uswnt)

No processo, segundo reportagem do jornal The New York Times, as atletas acusam a federação americana de "discriminação de gênero institucionalizada". As demandas são não apenas com relação a salário, mas também a lugares de jogos, à frequência, a condições de treinamento, ao tratamento médico que recebem e até mesmo a como viajam para as partidas.

Importante lembrar 1: a seleção masculina de futebol dos EUA, que segundo as atletas tem mais benefícios do que elas, jamais venceu uma Copa do Mundo. Inclusive ficou 40 anos, de 1950 a 1990 sem conseguir se classificar para disputá-la.

Importante lembrar 2: estamos a exatamente três meses da Copa do Mundo feminina, que neste ano acontecerá na França.

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O futebol feminino é extremamente popular nos EUA, até por ser tão campeão. As atletas da seleção nacional são celebridades e responsáveis por um crescimento importante no número de meninas apaixonadas por futebol e jogando desde muito cedo. Ainda assim, qualquer passagem rápida de olho em comentários de reportagens ou mesmo em redes sociais mostra que o machismo está lá, mais presente do que nunca.

Elas, no entanto, não se abatem. Em dezembro de 2017, a ex-goleira da seleção Hope Solo anunciou que se candidataria à presidência da U.S. Soccer, como é chamada a entidade que gere o futebol nos EUA. Entre suas propostas, ela destacava: "Brigar por igualdade de pagamento para as seleções femininas e para todas as mulheres na U.S. Soccer, lutar pela inclusão de mulheres em toda a hierarquia executiva e organizacional da U.S. Soccer e eliminar sexismo e discriminação".

Quem disse que meninas não podem jogar?, questiona a jovem torcedora (Reprodução/Instagram/@uswnt)

Ela não foi eleita, mas nem por isso a luta das atletas americana arrefeceu. Solo foi uma das que processaram a federação em uma ação que acabou dando origem a esta atual, reunindo as 28 jogadoras da seleção. E assim as craques do time dos Estados Unidos acabaram virando referência para tantas atletas que têm os mesmos problemas e enfrentam as mesmas batalhas.

A seleção canadense pediu aconselhamento às americanas sobre como conseguir incluir coberturas de maternidade em seus contratos. As jogadoras da WNBA, liga feminina de basquete americana, pediram ajuda sobre a melhor forma de discutir questões envolvendo treinos e viagens. Até a seleção de hóquei pediu socorro ao ser literalmente enrolada pela federação em coisas básicas, como uma conta em rede social e estratégias de marketing.

"Acho que agora existe de fato um movimento de união entre as mulheres, que está acontecendo no esporte e fora dele. E acho que as pessoas do mundo todo estão se dando conta do quão importante é fazer essa conexão com pessoas que estão na mesma jornada que elas", afirmou a jogadora Christen Press, ainda de acordo com o New York Times.

A jogadora Carli Lloyd homenageou a ativista Malala em sua camisa (Reprodução/Instagram/@uswnt)

E as jogadoras da seleção americana têm feito questão de honrar quem está na mesma jornada que elas. Em jogo no último domingo, as atletas entraram em campo usando camisas com nomes de mulheres que elas admiram. De Beyoncé a Maya Angelou, Serena Williams e Malala, tantas mulheres importantes foram lembradas.

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?