Copa Feminina de Futebol: vencer é o mais importante?
Campeão ou não, és minha paixão. Essa é uma das frases que mais marcaram minha vida e minha relação tão estreita e apaixonada pelo futebol. No meu caso, pelo Corinthians, mas que, eu acho, deveria servir para torcedores de todo time e esporte.
Todo o mundo quer e ama ser campeão, obviamente. A alegria de ver seu time conquistar um campeonato, fase a fase, degrau por degrau, não existe em nenhum outro espaço ou contexto. Não tem tamanho e é indescritível. Acompanhar a superação de cada etapa e fazer parte dela é uma sensação mágica. O orgulho de ver seu maior amor vencer e de ser um pouquinho campeão junto dele só sabe quem já sentiu.
E esse sentimento é tão especial justamente porque ele não é cotidiano nem fácil. Tampouco depende de algo específico. Quando acontece, a vitória é sempre uma combinação de muitos fatores, do conjunto, do ambiente, da potência, do desejo. E até da sorte, claro que sim. E ainda assim, ainda que o mundo conspire, que a garra entre em campo, que o universo queira, nem sempre dá para ser campeão.
Veja também:
- Álbum de figurinhas: 10 curiosidades sobre as jogadoras da seleção
- Ousadia e desobediência: exposição em SP conta história do futebol feminino
- Copa de Futebol Feminina: respeito também se aprende colando figurinhas
Estamos em plena Copa do Mundo de futebol feminino e tenho me sentido ansiosa com a estreia da seleção brasileira –domingo, às 10h30, contra a Jamaica. Não dá para negar, é um momento especial. O espaço das mulheres no esporte vem crescendo e sendo valorizado.
Ainda falta muito a ser conquistado, mas já temos uma camisa desenhada para nossas atletas –em vez daquele uniforme masculino reaproveitado–, poderemos assistir aos jogos pela televisão aberta e com comentários de mulheres. Muitas empresas pela primeira vez estão liberando seus funcionários do trabalho –como sempre acontece na Copa masculina– para torcer e prestigiar os jogos. Há marcas que de forma inédita se engajaram com a modalidade, investindo e apostando em seu sucesso. O futebol feminino no Brasil, apesar do machismo e da discriminação ainda tão frequentes, está finalmente ganhando visibilidade.
É bonito de assistir. E antes mesmo de a seleção entrar em campo, eu já sinto um pouco o gostinho de ser campeã com ela. Porque eu –como tantas pessoas que prestigiam e amam o futebol, masculino ou feminino– esperei muito por este momento. Por este reconhecimento. O time brasileiro nem pisou ainda no gramado, mas já pode saborear a sensação mágica de superação.
Nenhum jogo ainda foi disputado nem vencido, mas foi difícil chegar até aqui. Pergunte a qualquer uma das jogadoras que representarão o nosso país. Não é por puro marketing que elas estão sendo chamadas de Guerreiras do Brasil. A maioria teve uma vida de enfrentamentos, socialmente e profissionalmente. São mulheres que brincaram de bola na infância com cabeças de boneca e tiveram que fugir das aulas de balé. Encararam apelidos. Trabalharam sem estrutura e sem salário. E não tem ser humano nesta terra chamada Brasil que sonhe mais com o primeiro título de Copa do Mundo do que elas mesmas.
Temos uma seleção vitoriosa e considerada uma das melhores do mundo. Temos sete títulos de Copa América, já ficamos em segundo e em terceiro nas Copas de 2007 e 1999, e conquistamos duas medalhas de prata em Olimpíadas (2004 e 2008).
Além disso, entre as nossas jogadoras temos Formiga, única jogadora de futebol do mundo a ter participado de seis Jogos Olímpicos, todas as edições desde que o futebol feminino passou a participar da disputa e a atleta –entre homens e mulheres– com maior participação em mundiais, totalizando sete. Contamos ainda com Marta, eleita seis vezes melhor do mundo, a maior artilheira das Copas com 15 gols. Sem esquecer de Cristiane, a maior goleadora de Olimpíadas, com 14 gols.
Mas a campanha pré-Mundial não foi boa, e a seleção vem de nove derrotas. Pode parecer desanimador. Você pode pensar que não vale a pena ver os jogos, que não temos chances de ser campeãs. Mas será que isso é o mais importante neste momento?
Quando a seleção brasileira entrar em campo, eu vou estar torcendo para que ela vença. Mas cheia de certeza de que as maiores batalhas estão sendo enfrentadas ainda fora de campo. E nada pode apagar as conquistas que marcaram essa caminhada –para as mulheres e para o esporte feminino.
Agora temos voz.
E eu vou usar a minha para continuar dizendo: campeão ou não, és minha paixão.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.