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Copa Feminina de Futebol: vencer é o mais importante?

Débora Miranda

09/06/2019 04h00

Campeão ou não, és minha paixão. Essa é uma das frases que mais marcaram minha vida e minha relação tão estreita e apaixonada pelo futebol. No meu caso, pelo Corinthians, mas que, eu acho, deveria servir para torcedores de todo time e esporte.

Todo o mundo quer e ama ser campeão, obviamente. A alegria de ver seu time conquistar um campeonato, fase a fase, degrau por degrau, não existe em nenhum outro espaço ou contexto. Não tem tamanho e é indescritível. Acompanhar a superação de cada etapa e fazer parte dela é uma sensação mágica. O orgulho de ver seu maior amor vencer e de ser um pouquinho campeão junto dele só sabe quem já sentiu.

Marta é uma das estrelas da seleção feminina de futebol (Divulgação/CBF)

 

E esse sentimento é tão especial justamente porque ele não é cotidiano nem fácil. Tampouco depende de algo específico. Quando acontece, a vitória é sempre uma combinação de muitos fatores, do conjunto, do ambiente, da potência, do desejo. E até da sorte, claro que sim. E ainda assim, ainda que o mundo conspire, que a garra entre em campo, que o universo queira, nem sempre dá para ser campeão.

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Estamos em plena Copa do Mundo de futebol feminino e tenho me sentido ansiosa com a estreia da seleção brasileira –domingo, às 10h30, contra a Jamaica. Não dá para negar, é um momento especial. O espaço das mulheres no esporte vem crescendo e sendo valorizado.

Ainda falta muito a ser conquistado, mas já temos uma camisa desenhada para nossas atletas –em vez daquele uniforme masculino reaproveitado–, poderemos assistir aos jogos pela televisão aberta e com comentários de mulheres. Muitas empresas pela primeira vez estão liberando seus funcionários do trabalho –como sempre acontece na Copa masculina– para torcer e prestigiar os jogos. Há marcas que de forma inédita se engajaram com a modalidade, investindo e apostando em seu sucesso. O futebol feminino no Brasil, apesar do machismo e da discriminação ainda tão frequentes, está finalmente ganhando visibilidade.

É bonito de assistir. E antes mesmo de a seleção entrar em campo, eu já sinto um pouco o gostinho de ser campeã com ela. Porque eu –como tantas pessoas que prestigiam e amam o futebol, masculino ou feminino– esperei muito por este momento. Por este reconhecimento. O time brasileiro nem pisou ainda no gramado, mas já pode saborear a sensação mágica de superação.

Nenhum jogo ainda foi disputado nem vencido, mas foi difícil chegar até aqui. Pergunte a qualquer uma das jogadoras que representarão o nosso país. Não é por puro marketing que elas estão sendo chamadas de Guerreiras do Brasil. A maioria teve uma vida de enfrentamentos, socialmente e profissionalmente. São mulheres que brincaram de bola na infância com cabeças de boneca e tiveram que fugir das aulas de balé. Encararam apelidos. Trabalharam sem estrutura e sem salário. E não tem ser humano nesta terra chamada Brasil que sonhe mais com o primeiro título de Copa do Mundo do que elas mesmas.

Andressa Alves é atacante da seleção (Divulgação/CBF)

Temos uma seleção vitoriosa e considerada uma das melhores do mundo. Temos sete títulos de Copa América, já ficamos em segundo e em terceiro nas Copas de 2007 e 1999, e conquistamos duas medalhas de prata em Olimpíadas (2004 e 2008).

Além disso, entre as nossas jogadoras temos Formiga, única jogadora de futebol do mundo a ter participado de seis Jogos Olímpicos, todas as edições desde que o futebol feminino passou a participar da disputa e a atleta –entre homens e mulheres– com maior participação em mundiais, totalizando sete. Contamos ainda com Marta, eleita seis vezes melhor do mundo, a maior artilheira das Copas com 15 gols. Sem esquecer de Cristiane, a maior goleadora de Olimpíadas, com 14 gols.

Mas a campanha pré-Mundial não foi boa, e a seleção vem de nove derrotas. Pode parecer desanimador. Você pode pensar que não vale a pena ver os jogos, que não temos chances de ser campeãs. Mas será que isso é o mais importante neste momento?

Quando a seleção brasileira entrar em campo, eu vou estar torcendo para que ela vença. Mas cheia de certeza de que as maiores batalhas estão sendo enfrentadas ainda fora de campo. E nada pode apagar as conquistas que marcaram essa caminhada –para as mulheres e para o esporte feminino.

Agora temos voz.
E eu vou usar a minha para continuar dizendo: campeão ou não, és minha paixão.

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Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?