Jovem com doença rara vira faixa preta de caratê: "Sou uma vencedora"
Natane Ferravallo tem apenas 98 cm de altura. Começou a praticar caratê quando tinha "de 19 para 20 anos", por indicação da fisioterapeuta. "Nunca tinha pensando em fazer nenhuma luta. Achei meio estranho, pois pensava que, por causa do impacto, pudesse me causar algum problema."
Hoje faixa preta, ela conta que o esporte vem ajudando bastante em seu desenvolvimento físico. "Nunca tive problemas, pelo contrário. Me ajuda bastante, ganhei massa muscular e fiquei mais encorpada", conta.
Natane nasceu com doença de Jansen, condição rara que limita sua movimentação. "Uma mutação de dois genes provoca excesso de cálcio no organismo. Tenho nanismo, pois meus ossos não cresceram. Eles se calcificaram em certos lugares e, por isso, tenho dificuldades para realizar alguns movimentos", explica ela. "Por enquanto é estável, mas pode ser progressiva conforme a idade."
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Ao longo da vida, o esporte nunca foi algo a que Natane tenha se dedicado –apesar de gostar muito de futebol e ser palmeirense fanática. "Eu tinha problema renal, ia direto parar no médico, nem podia", lembra ela, que mora em São Mateus, na zona leste de São Paulo, com os pais e quatro dos 11 irmãos.
Conta, no entanto, que quando decidiu treinar caratê recebeu o apoio de todos. "Meus pais gostaram e me apoiaram totalmente, pois sabiam que ia fazer bem para mim. Estão muito orgulhosos, aliás, minha família toda."
Natane treina duas vezes por semana no projeto do Instituto Olga Kos que trabalha o esporte com pessoas que têm deficiência. "Fui gostando e evoluindo. Teve as trocas de faixas, participei de campeonatos", enumera Natane. "Me considero vencedora, cheguei mais longe do que eu imaginava."
Caetano Altenfelder, responsável pelo departamento de esportes do IOK, diz que o esporte é uma excelente ferramenta de transformação. "Por meio das oficinas, os participantes aprendem a conviver e a respeitar as diferenças, aprendem que cada um de nós tem uma limitação, um tempo de assimilação e aprendizado e que devemos respeitar isso. Há espaço para todos e todos são capazes."
Recentemente, Natane começou a trabalhar como instrutora auxiliar no instituto. "Estou dando aula para crianças e adolescentes. A maioria dos alunos tem síndrome de Down ou autismo. Gosto muito, é uma ótima experiência."
Altenfelder explica que a intenção do instituto não é profissionalizar os participantes das oficinas, mas promover a inclusão. "Natane e a família nunca imaginaram que o caratê transformaria suas vidas. Ela iniciou como participante, a fim de trabalhar as questões de desenvolvimento motor e social, mas acabou encontrando um esporte apaixonante. Neste ano foi graduada faixa preta e atua como instrutora auxiliar em nossas oficinas, além de realizar diversas apresentações em eventos esportivos e sociais."
Natane diz que começou as aulas de caratê mais focada no que poderiam auxiliá-la fisicamente e que não sonhava em trabalhar com isso. "Não achava que seria possível. No começo, eu fazia mais pela parte de saúde."
Hoje, no entanto, planeja estudar educação física para poder trabalhar na área, além de sonhar também cursar administração de empresas.
O dia a dia, ela conta, é "tranquilo". "Saio, faço muitas atividades, ajudo minha mãe a comprar coisas, a pagar contas. Tem umas pessoas que às vezes ficam me olhando, mas estou acostumada. No geral, são solícitas. O esporte me ensinou a ter mais paciência e também a pensar no próximo."
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