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Bárbara Coelho: "Não existe mulher contra homem; queremos sociedade igual"

Universa

27/03/2019 04h00

Foi com muitos sonhos e um espírito batalhador que a jornalista Bárbara Coelho chegou ao "Esporte Espetacular" (Globo) em dezembro do ano passado, substituindo Fernanda Gentil. Nascida em Vitória (ES), foi a primeira mulher da equipe de esportes de uma rádio local e, em 2010, cobriu a Copa do Mundo de forma independente: vendeu um carro e embarcou, com ingressos para os jogos –em vez de credencial– e um motor home como hospedagem.

"Minha carreira sempre foi motivada por muitos sonhos, por muita vontade de fazer acontecer e com muito pé no chão, porque sempre soube quais seriam as etapas que eu precisaria passar. Foi muito difícil, sempre é, mas foi incrível."

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Em entrevista ao Extraordinárias, Bárbara conta mais sobre sua trajetória, fala do amor pelo esporte –que já a levou a se emocionar mais de uma vez no ar–, celebra o trabalho no "Esporte Espetacular" e fala da ainda longa caminhada que as mulheres que trabalham com esporte têm pela frente.

"Estamos desconstruindo essa ideia de que o esporte é uma área predominantemente masculina, mas a estrada ainda é muito longa." E completa: "Não existe uma briga de mulheres contra homens. Estamos todos no mesmo barco, buscando uma sociedade melhor, que seja mais igual para todo o mundo".

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Pode relembrar um pouco da sua trajetória e contar sobre as dificuldades que encontrou nesse caminho?

Sou de Vitória, no Espírito Santo. Comecei a trabalhar na rádio Espírito Santo e fui a primeira mulher da equipe de esportes. Nesse primeiro momento, não tinha experiência e foi tudo novidade. Depois, acumulei dois estágios com a faculdade à noite. Foi complicado conciliar, especialmente quando a faculdade foi chegando na reta final. Consegui a liberação para entregar o meu TCC meses antes do prazo final para conseguir realizar o sonho de ir para a Copa do Mundo da África. Foi uma cobertura independente, na qual embarquei com o sonho de ter uma história diferente para contar na trajetória que eu gostaria de seguir no jornalismo esportivo. Minha carreira sempre foi motivada por muitos sonhos, por muita vontade de fazer acontecer e com muito pé no chão, porque sempre soube quais seriam as etapas que eu precisaria passar. Foi muito difícil, sempre é, mas foi incrível.

Com Felipe Andreolli, seu parceiro de Esporte Espetacular (Reprodução: Instagram)

Já sabia desde o começo que queria trabalhar com esporte ou foi um caminho natural?

Costumo brincar dizendo que a gente se encontrou na vida. Foi um caminho extremamente natural. Sempre fui a menina que gostava mais da aula de educação física, de brincar com bola, de trocar ideia sobre futebol. E assim seguiu na faculdade, sempre estava mais próxima das pessoas que tinham afinidade com esporte e que gostavam de futebol.

É verdade que você vendeu um carro para cobrir uma Copa do Mundo? Como foi esse episódio?

Vendi o carro para fazer essa cobertura da Copa do Mundo da África, em 2010. Foi uma cobertura independente. Foi bem complicado convencer os meus pais, porque naquele momento eu era uma sonhadora. Passei 40 dias num motor home na África. Foi uma viagem desafiadora, em que eu era jornalista, mas tinha ingresso para os jogos, não tinha credencial. Uma semana depois de voltar ao Brasil, eu me mudei para o Rio. Trouxe a mala, um ventilador e uma TV. Vim morar numa república, e as coisas foram acontecendo. Sou de família muito simples, então nunca sobrou muita grana. De lá pra cá, trabalhei muito até chegar ao "Esporte Espetacular", onde estou muito feliz e realizada.

Quais são seus esportes favoritos e como é sua rotina para acompanhar jogos e noticiário?

Eu gosto de todos os esportes. Curto muito futebol e sempre que está passando um campeonato relevante de tênis eu paro para assistir. A NBA me pega por causa dos horários, mas sempre que chega aos playoffs eu fico virada, acabo vendo. Estou sempre acompanhando MMA e UFC também. Estou de olho no que está rolando de mais importante no esporte. Eu leio os jornais e adoro biografias, em livros ou em filmes. Costumo dizer que você pode até estudar esporte, mas esporte se vive. O que faz de você um profissional diferenciado em jornalismo esportivo é o quanto você vivencia o esporte. As pessoas olham para você e sabem que o esporte está na sua veia, na sua linguagem, no seu coração. Eu consumo muito esporte de todos os lados.

Qual é a sua análise do espaço das jornalistas que hoje trabalham com esporte? Vê uma evolução no mercado e também no respeito vindo de atletas, técnicos e dirigentes?

Hoje há um número grande de mulheres trabalhando, mas esse espaço ainda é pequeno em comparação ao número de homens. Para mudar esse cenário, precisamos nos preocupar mais com a base, em como essas meninas que estão começando estão sendo encorajadas a entrar no mercado. Não existem poucas mulheres preparadas para ocupar essas vagas, mas algumas delas desistem porque é realmente difícil. As mulheres que entendem e gostam de esporte precisam provar sempre duas vezes mais que elas entendem e acompanham. As pessoas ainda acham que é mais natural para os homens. Estamos desconstruindo essa ideia de que o esporte é uma área predominantemente masculina, mas a estrada ainda é muito longa.

Você já sofreu preconceito? O SporTV fez um vídeo, pelo Dia da Mulher, com homens lendo comentários ofensivos que as mulheres jornalistas recebem nas redes sociais. Já passou por situação semelhante?

Todas nós já recebemos mensagens desse tipo. Faz parte da nossa rotina.

O que significou para você o convite para apresentar o "Esporte Espetacular"? Como tem sido essa experiência?

O "Esporte Espetacular" é incrível. Do convite até hoje, eu tenho aprendido todos os dias. É um programa preparado ao longo da semana inteira, pensado, com espaço para exercitar a criatividade. A cada domingo, eu arrisco algo novo, um linguajar mais solto, para que as pessoas conheçam não só o meu trabalho, mas me conheçam também. Estou vivendo um dia de cada vez, muito satisfeita.

Por que você acha que se emociona no ar, algo que nem todo jornalista se permite fazer?

Conversei com alguns amigos jornalistas sobre isso e cheguei à conclusão de que a emoção é uma coisa que não se mede, não se calcula. Chega uma hora em que o envolvimento com o assunto é tão grande, que a gente acaba sofrendo junto. No dia do programa sobre a tragédia no Ninho do Urubu, eu quase não dormi de sábado para domingo. Fiquei assim desde a sexta-feira, quando o incêndio aconteceu, até muito depois. A emoção vem, ela não é calculada.

Uma matéria de  inclusão, em que falou sobre a igualdade de gêneros, também mexeu com você…

Ouvi os depoimentos daquelas meninas ao vivo, estive com elas, escrevi o roteiro com a produtora e com um dos editores do programa. Me envolvi muito com aquilo e ouvi a minha história, o que eu passei, no depoimento daquelas meninas. Tem a mulher de 30 e poucos anos que passou a vida sofrendo preconceito, muitas vezes sem perceber, que viveu em uma sociedade que tem um olhar preconceituoso para ela no esporte. E tem uma geração mais nova totalmente empoderada, firme de seus propósitos e com a certeza de que o lugar delas é onde elas quiserem. Eu respeito todas as mulheres e como elas conduzem esse assunto tão delicado. Eu tento conduzir com empatia, com amor, com conversa. Não vou para o confronto, para a briga, para o embate. Não existe uma briga de mulheres contra homens. Estamos todos no mesmo barco, buscando uma sociedade melhor, que seja mais igual para todo o mundo. Todos vamos colher os frutos disso.

Neste ano tem a Copa do Mundo de futebol feminino e, pelo que já foi divulgado, deve ter a maior cobertura já feita para esse esporte. Quais são suas expectativas com relação ao evento? Já sabe se terá alguma participação na cobertura?

A Copa do Mundo feminina é uma grande conquista para este esporte no Brasil, porque vai dar visibilidade.  Isso traz outras coisas que o esporte precisa, como investimento. É uma oportunidade de conhecer de perto a história dessas meninas que fazem parte da seleção brasileira. Estou muito otimista pelo esporte, acima de qualquer coisa. O "Esporte Espetacular" está preparando conteúdo voltado para a divulgação do evento, que também terá transmissão da Globo.

Qual o papel do esporte na sua vida?

É tudo na minha vida. Eu não sei o que seria de mim se não fosse ele. O esporte é uma metáfora. Toda vez que passo por algum momento difícil ou preciso de uma solução, eu olho para o esporte e ele me dá todas as respostas. Me trouxe paciência, me ensinou a ter disciplina e respeito pelas pessoas, me ensinou que a dedicação te traz respostas, que o empenho te traz resultados.

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Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?