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Débora Miranda

Carol Barcellos corre pela igualdade em projeto dedicado a meninas da Maré

Débora Miranda

10/01/2019 15h31

Quando foi entrevistar a maratonista americana Kathrine Switzer, em 2017, para o programa "Esporte Espetacular", Carol Barcellos não esperava ter sua vida transformada. Kathrine ficou conhecida por ter sido a primeira mulher a correr a Maratona de Boston, em 1967, e por ter sido agredida por um dos organizadores, que tentou tirá-la da prova. No fim da entrevista, ela disse à jornalista da Globo –que também gosta de correr: "Só te faço um pedido: que passe adiante o que a corrida te deu e às mulheres que estão à sua volta. Porque a liberdade vem do coração".

A jornalista Carol Barcellos com duas meninas do projeto Destemidas, na primeira corrida delas (Reprodução/Instagram)

E assim foi feito. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Carol se juntou à ONG Luta pela Paz e criou o projeto Destemidas, que incentiva meninas e mulheres do Complexo da Maré (zona norte do Rio) a correr e, por meio do esporte, fortalece a imagem feminina. "Ainda há um longo caminho para a igualdade. E acredito na importância do esporte nesse processo", conta Carol, em entrevista ao Extraordinárias.

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Como o Destemidas surgiu?

Em 2017, fui a Boston entrevistar a americana Kathrine Switzer, a primeira mulher a correr aquela maratona, 50 anos atrás. Na época, ela foi agredida. Tentaram tirá-la da prova por ser mulher. Essa foto entrou para a história. Ao fim da entrevista, quando agradeci, ela me surpreendeu. Disse que sabia um pouco da minha história com corridas e que eu devia devolver ao esporte tudo o que o esporte havia me dado. Voltei para o Brasil e, meses depois, em parceria com a ONG Internacional Luta pela Paz, criei as Destemidas.

Kathrine Switzer foi agarrada na Maratona de Boston, mas seguiu até o fim (Reprodução)

Como funciona o projeto?

Nosso objetivo é estimular o potencial de meninas e mulheres do Complexo da Maré, utilizando a corrida como ferramenta de desenvolvimento pessoal e de autonomia. Claro que a ideia é levar saúde e todos os benefícios do esporte. O esporte promove uma mudança de atitude. Correr me mostrou que sou mais forte e posso ir além do que imaginava. E, no nosso projeto,  elas estão conhecendo essa sensação. Sou responsável pelo projeto junto com a Gabriela Pinheiro, do Luta pela Paz. Como utilizo a estrutura deles, o atendimento às meninas fica por conta da ONG. Meu papel é estar ao lado delas e também buscar parceiros que acreditem no projeto. Também busco promover o projeto e organizo e participo dos treinos externos uma vez por mês. Durante a semana, elas treinam no Complexo da Maré.

Quem mais está envolvido? Que tipos de profissionais?

Como é uma parceria com a Luta pela Paz, conto com a equipe da ONG, que já tem quase 20 anos de estrada. Lá, eles têm uma estrutura integrada e oferecem atendimento de assistentes social, psicólogo e treinador. Uma pessoa coordena as atividades internas do projeto. Eu e a Gabi coordenamos as atividades externas e o relacionamento com parceiros. Estou tentando montar uma equipe independente. O sonho é termos uma equipe integral, com fisioterapeuta, nutricionista, treinador, preparador físico, psicólogo, facilitador para discussão de temas relacionados à mulher e um coordenador. É muito trabalho.

Por que decidiram dedicar esse projeto unicamente às mulheres?

No Brasil, os números demonstram uma assustadora desigualdade. O país ocupa a 92ª posição no Índice de Desigualdade de Gênero, que retrata as diferenças de oportunidades no acesso à saúde reprodutiva, à autonomia e atividade econômica. Ainda há um longo caminho para a igualdade. E acredito na importância do esporte nesse processo.

Carol em um dos treinos do projeto (Reprodução/Instagração)

De que forma acredita que o esporte pode transformar a vida dessas meninas e mulheres?

Por meio do esporte, desenvolvemos competências e habilidades importantes. A dinâmica e linguagem presentes no esporte também funcionam como ferramentas de fortalecimento da autoestima e conhecimento sobre o próprio corpo. O esporte transforma vidas. Vejo na expressão delas. E em como suas atitudes e sua autoestima mudaram.

Qual é a importância do esporte nas comunidades carentes no Rio?

O esporte impacta a saúde mental, a autoimagem, os níveis de confiança e melhora habilidades de comunicação, trabalho em equipe e liderança. Tudo influencia nas oportunidades de realização, na escola e no trabalho. Esse projeto foi pensado como resposta a fatores de risco. O esporte é poderoso demais. É transformador e essencial no processo de educação.

E qual é a importância do esporte na sua vida?

Faço corrida, stand-up, natação… O que eu puder praticar, no lugar do mundo onde estiver. Preciso do movimento. Tenho paixão e gratidão pelo esporte. Me ensinou, me formou e me faz, todo dia, ir além.

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?