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Débora Miranda

Caso goleiro Jean: todo homem que bate em mulher é monstro?

Universa

16/02/2020 04h00

Acusado de ter agredido a esposa durante uma viagem aos Estados Unidos, em dezembro, o goleiro Jean falou pela primeira vez sobre o caso na última quinta-feira –após ter sido dispensado do São Paulo, ele foi contratado pelo Atlético-GO.

Jean durante entrevista à imprensa, ao ser apresentado como atleta do Atlético-GO (Reprodução)

"Eu devia esclarecimento para todos. Vocês tomaram conhecimento, desde dezembro, de coisas pessoais. Durante este tempo, eu estava impossibilitado pela Justiça americana, não poderia me referir à minha ex-mulher, por isso não falei antes. Peço desculpa pelo meu erro. Toda história tem dois lados, sim, mas nada justifica a agressão. Fiquei totalmente errado. Não estou dizendo que pela história ter dois lados eu estou certo em agredir. Foi uma reação que eu tive. Nunca tinha agredido ninguém. Quem me conhece há mais tempo sabe de toda a minha história e se surpreendeu com o que aconteceu. Mas tem coisas que eu só vou poder falar em breve. Peço desculpa a todas as mulheres. Não sou esse monstro que a imprensa fez de mim."

NÃO SOU ESSE MONSTRO QUE A IMPRENSA FEZ DE MIM.

É curioso como o próprio agressor não enxerga em si características de um homem violento. Jean explica que nunca havia agredido ninguém, que foi só uma reação que teve.

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Isso diminui a gravidade do que ele fez? Óbvio que não, como ele mesmo reconhece ao dizer que nada justifica seu comportamento e que agiu de forma errada.

Mas Jean argumenta em defesa própria dizendo que quem o conhece há mais tempo se surpreendeu com o ocorrido. E, no fim, destaca que não é um monstro.

Talvez porque maridos batendo em mulheres seja algo naturalizado por tanto tempo, talvez por preconceito, talvez por falarmos tão pouco sobre a violência doméstica, as pessoas ainda acreditem que só monstros batem em suas esposas, namoradas ou companheiras.

Comportamento agressivo não tem cara, cor nem classe social. Homens elegantes podem ser violentos. Ricos também. Inteligentes a mesma coisa. Aquele vizinho com quem você cruza no elevador e acha um doce de pessoa? Sim. Homens honestos? Com certeza.

Homens que cometem violência contra mulheres não necessariamente têm comportamentos agressivos fora de casa. Nem sempre são estúpidos no trato com outras pessoas. Não são intolerantes irremediáveis na vida cotidiana e no lidar com outras pessoas. E isso precisa ficar claro de uma vez por todas.

Enquanto acreditarmos que só os monstros batem em mulheres, não conseguiremos dar o acolhimento necessário às vítimas nem fazer justiça. E enquanto os homens não enxergarem a violência em seus comportamentos, eles não entenderão que fizeram errado. Ainda se acharão diferente dos "monstros".

Porque agredir uma mulher não é nem nunca será "apenas uma reação".
É violência, é crime, é ameaça à vida e assim precisa ser reconhecido e encarado.

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?