O que esperar da nova técnica da seleção brasileira de futebol feminino?
Débora Miranda
26/07/2019 04h00
Pia Sundhage aplaude equipe brasileira em jogo do Brasil contra a Suécia nas Olimpíadas de 2016. Agora, técnica vai liderar a seleção brasileira. Mas o que ainda falta?
A CBF anunciou ontem a chegada da nova técnica da seleção feminina de futebol. Depois de uma Copa do Mundo em que o time brasileiro conquistou visibilidade inédita, ficou evidente que, apesar dos grandes talentos que formam a equipe, era necessário um investimento maior na parte técnica e tática.
Mas o que se pode esperar da chegada da sueca Pia Sundhage ao Brasil?
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1. Experiência no futebol feminino
Uma das principais críticas ao trabalho de Vadão era sua falta de experiência no universo do futebol feminino –além, claro, das duas passagens que teve no comando do time brasileiro. Vadão, na realidade, não tem um histórico de grandes conquistas nem mesmo na modalidade masculina e nunca demonstrou ser capaz de implementar inovações no time nem tampouco de administrar crises. Entrou para disputar a maior Copa do Mundo do futebol feminino com nove derrotas consecutivas em seu currículo.
Pia figura no lado oposto da tabela. Foi jogadora de futebol em uma época dominada pela discriminação, conhece as dificuldades da modalidade e já comandou algumas das principais e mais vitoriosas equipes do mundo, como a dos EUA, atual campeã mundial. Foi com ela que as norte-americanas venceram duas Olimpíadas (Pequim 2008 e Londres 2012), além de terem sido vice-campeãs da Copa de 2011. Seu trabalho é referência da modalidade.
2. Mulher e competente
Pia é a segunda mulher a dirigir a seleção brasileira de futebol feminino. A primeira foi Emily Lima, atual técnica do Santos feminino, que teve uma breve passagem de menos de um ano no comando do time. A saída de Emily, na época, gerou indignação nas atletas, que acreditavam em suas propostas. Por ter um histórico bastante longo no futebol feminino, Emily tinha ideias inovadoras para o time, inclusive no que se refere ao fortalecimento da base. Suas propostas, no entanto, não foram bem-aceitas pela CBF.
É comum que as jogadoras –não apenas do Brasil, mas do mundo todo– se identifiquem e amadureçam profissionalmente com técnicas mulheres, que tendem a compreender melhor a forma feminina de jogar, as dificuldades históricas enfrentadas pelas atletas e as especificidades de ser mulher num universo ainda tão predominantemente masculino. A final desta Copa do Mundo 2019, por exemplo, foi realizada por duas equipes comandadas por mulheres.
3. Aposta na base e reformulação
A aposta da CBF, segundo a imprensa especializada, é que Pia, com base em sua experiência bem-sucedida, promova uma grande reformulação no futebol feminino do Brasil. Um dos pontos do acordo seria dar a ela espaço para uma atuação ampla em todo o departamento feminino, com poderes inclusive sobre as categorias de base.
Essa decisão pode ser chave para o time brasileiro, que conta com atletas já muito experientes e perto da aposentadoria, e com revelações modestas que, pelo menos no que diz respeito ao trabalho realizado até agora, não são capazes de substituir à altura os grandes nomes que o Brasil tem em seu elenco. Um trabalho apurado e responsável nas categorias de base pode ser a diferença entre um período de ostracismo da seleção e a transformação do time em uma verdadeira potência mundial.
4. Aproveitamento de talentos
Além do investimento nas categorias de base, é importante que a líder da seleção brasileira seja alguém capaz de aproveitar ao máximo a capacidade de suas estrelas. Sem brilhantismo tático, o Brasil vem jogando na dependência de seus talentos individuais –o que muitas vezes pode ser suficiente, mas que não é das estratégias mais potentes quando a principal ambição do time é ser o melhor do mundo. É preciso de fato montar uma equipe, o que é bem diferente de apenas reunir as melhores jogadoras de cada posição e colocá-las em campo.
5. Diversidade
Pia é assumidamente homossexual –como tantas das atletas que atuam hoje no futebol feminino. Você pode se perguntar se a sexualidade de cada um afeta o desempenho profissional ou mesmo se isso deve ser discutido abertamente. Não necessariamente. Mas é essencial que o futebol feminino possa existir e respirar sem amarras, sem preconceitos, sem discriminação, pois isso, sim, afeta seu desempenho.
As mulheres foram no Brasil proibidas de jogar por 40 anos. Que daqui para a frente elas possam fazer as próprias escolhas com estrutura profissional, pagamento justo e sem julgamentos de nenhuma espécie –a não ser pelo trabalho que demonstram dentro de campo.
Sobre a autora
Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.
Sobre o blog
Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?