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Comitê não adia Olimpíada e atletas se revoltam: “Estão nos pondo em risco”

Débora Miranda

22/03/2020 04h00

Katerina Stefanidi, do salto com vara, posicionou-se contra a decisão do COI (Reprodução)

O assunto de hoje não fala de feminismo nem de diversidade, mas de humanidade no esporte. Na contramão de todos os grandes eventos esportivos atuais, o COI (Comitê Olimíco Internacional) decidiu, em reunião na última semana, manter os Jogos Olímpicos de Tóquio para 24 de julho deste ano.

A notícia causou indignação entre atletas e ex-atletas, que conhecem as demandas altíssimas para disputar uma Olimpíada e veem que não será possível atingi-las em meio à pandemia do novo coronavírus, com a população mundial resguardada em casa, tentando manter a saúde e proteger seus familiares.

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Poliana Okimoto, a primeira nadadora brasileira a ter uma medalha olímpica, fez duas postagens em seu Instagram criticando duramente a decisão do COI e afirmando que a organização está colocando os atletas em risco.

"Em frente a tantas mortes, a tanto caos, em meio a tantos medos e incerteza, eles esquecem que os protagonistas dos jogos são os atletas, e não os países em si. Ok, Tóquio pode ser capaz de realizar os Jogos Olímpicos na data prevista. Já vimos o Japão se reerguer de guerras, bomba atômica, terremoto e tsunamis […]. Mas estamos dizendo, afirmando, que os atletas não têm condição de realizar esses jogos na data prevista. E nem poderiam. […] A decisão do COI é a mesma coisa que falar: 'Ei, atleta, vá lá, se exponha, pegue a porra do vírus, passe ele para os seus amigos e familiares, mas não deixe de treinar'."

Poliana ainda chamou os integrantes do comitê de "irresponsáveis, egoístas, imprudentes e materialistas". Em outro post, ela pediu: "Não ponham os atletas em risco pedindo que eles se mantenham treinando".

A decisão do COI repercutiu mal entre atletas do mundo todo. Campeã olímpica do salto com vara, a grega Katerina Stefanidi também se posicionou: "Não é sobre como as coisas serão em quatro meses. É sobre como as coisas estão agora. O COI quer que nós continuemos arriscando nossa saúde, a saúde da nossa família e a saúde pública treinando todos os dias? Estão nos colocando em perigo agora, hoje, não em quatro meses".

Hayley Wickenheise, jogadora de hóquei e vencedora de quatro medalhas olímpicas, chamou a decisão de "insensível e irresponsável, diante do estado da humanidade". "Os Jogos Olímpicos devem ser cancelados? Ninguém sabe a esta altura e é justamente esse o meu ponto", afirmou a canadense, acrescentando que manter a data seria injusto com os atletas e com a população global. "Nós precisamos reconhecer o desconhecido."

Uma postagem da presidente da Comissão de Atletas do COI, a bicampeã olímpica Kirsty Coventry, causou bastante polêmica nas redes. Ela afirmou no Twitter que havia tido uma reunião "bastante construtiva" com 220 atletas do mundo todo para discutir o coronavírus e seus impactos no esporte. Comentou sobre a preocupação deles com os treinos e com a saúde –além da saúde de pessoas próximas. "O que posso dizer é: continuem fazendo o que que estão fazendo."

O nadador brasileiro Bruno Fratus respondeu a mensagem pedindo que ela reconsiderasse a decisão de manter a data da Olimpíada e que consultasse outros atletas. "Não sei se você tem consciência de que muitos atletas, como eu, estão incapazes de treinar. Além disso, o conselho de 'continuem fazendo o que estão fazendo' parece desconectado da realidade quando temos líderes mundiais todos os dias na televisão pedindo às pessoas que fiquem em casa e se isolem."

Algumas federações também têm se posicionado, especialmente as de países que vêm enfrentando situações mais drásticas, como a da Espanha.

Em entrevista ao jornal "New York Times" publicada na última sexta-feira, Thomas Bach, presidente do COI, afirmou que está considerando diferentes cenários, mas ainda não voltou atrás na decisão de manter as Olimpíadas de Tóquio. Só a cerimônia de abertura reuniria cerca de 11.000 pessoas, entre atletas, voluntários, jornalistas, fãs etc, segundo a publicação.

"Fomos afetados pela crise como todo o mundo e estamos preocupados como todo o mundo. Não estamos vivendo em uma bolha ou em outro planeta. Estamos no meio da sociedade", afirmou ele, destacando que a decisão é difícil de ser tomada por causa de incertezas sobre o futuro e dos diferentes prognósticos. Destacou ainda, que faltam mais de quatro meses para o evento.

"O cancelamento não está nos nossos planos", decretou, acrescentando: "Estamos comprometidos com o sucesso dos jogos".

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Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?