Treinos em casa e jogos de tabuleiro: a rotina de uma atleta em quarentena
Débora Miranda
29/03/2020 04h00
Tamires diz que senta falta de treinar em um campo, ao ar livre (Reprodução/Instagram)
Nada de correr por campos de futebol, bater bola nem chutar a gol. Desde o dia 17, Tamires, jogadora do Corinthians e da seleção brasileira, está recolhida em sua casa, ao lado do marido e do filho –da mesma forma que as outras atletas do clube, por causa do coronavírus. Com os treinos e os campeonatos interrompidos, elas tentam se manter em forma como podem, respeitando a quarentena. É o home office do futebol.
"A gente está recebendo treinos diariamente, criados pelo preparador físico do Corinthians. Aí vai de cada uma fazer. Tá sendo bem diferente. Claro que não atingimos o pico de necessidade de um jogo, não é um treino que tem tanta intensidade. Mas a gente tem feito da melhor forma possível", conta Tamires.
Veja também:
- Violência nos estádios: "Qual é o problema de fotografar uma bunda gostosa?"
- Erika Januza: "Uma mulher negra conseguir ser atleta no Brasil é difícil"
- Caso goleiro Jean: todo homem que bate em mulher é monstro?
Segundo ela, as atletas responderam a um questionário dizendo que material possuíam em casa e que espaço tinham disponível. Com base nisso, o treino de cada uma foi elaborado. "No meu caso acabou virando um momento de família. Acabamos fazendo os exercícios os três juntos, está sendo até divertido", conta ela, que viralizou recentemente na internet ao fazer "levantamento de filho".
No vídeo, ela usava Bernardo, 10 anos, como peso para algumas atividades físicas. "Eu estava sem barra para fazer as atividades e brinquei com ele, que se divertiu muito. A gente tem um grupo [de WhatsApp] de mães na escola e postei esse vídeo, todas gostaram. Uma até mandou com os filhos fazendo. A gente está tentando se ajudar."
Além de treinar, Tamires está usando o tempo em casa para acompanhar as atividades escolares do filho. "A escola também deixou bem claro que não é férias, então temos um período de estudo com ele também. Eu gosto de participar, a gente senta, estuda junto. Estou curtindo esse momento, pois na vida normal nem sempre temos tanto tempo de estar juntos."
A atleta conta que continua controlando a alimentação –pois tem tido um gasto calórico bem menor– e também se preocupa em dormir bem. "São pontos importantes, especialmente neste período. Três semanas em casa sem treinar podem representar uma perda de força de até 32%", afirma.
Tamires diz que psicologicamente tem se sentido bem e que recebeu dicas da psicóloga que trabalha com a seleção brasileira. "Às vezes, bate aquela sensação de querer correr, querer jogar no campo. Mas não estou sozinha e isso me ajuda a pensar em outras coisas. Estou tentando aproveitar este momento de uma outra maneira, estando mais perto da minha família." Entre as atividades favoritas do trio estão os jogos de tabuleiro, como War e Banco Imobiliário. "Mas a gente também brinca de pique-esconde e pega-pega."
Sobre a decisão recente do COI (Comitê Olímpico Internacional) de adiar a Olimpíada, Tamires diz que foi acertada. "Neste momento foi a melhor coisa a ser feita. Por segurança achei uma medida sensata. Quem faz o espetáculo da Olimpíada são os atletas. Tem gente que ainda não está nem classificada e sem poder treinar. Eles com certeza vão precisar de um tempo para estar competindo novamente. E essa insegurança pesaria também no psicológico. Sei que existe uma questão financeira envolvida, mas agora isso tem que ser secundário."
Tamires com o marido, César, e o filho, Bernardo (Divulgação)
Tamires diz que o momento é de reflexão. "É hora de olharmos para dentro de nós mesmos. De dar valor às pessoas, a poder estar com alguém. Não sabemos o amanhã. Para mim, o que fica de lição neste momento é valorizar as pessoas que estão com a gente diariamente. Porque sozinhos não somos nada, não somos ninguém. Para ser feliz, para viver bem, precisamos dar valor às pequenas coisas."
Quando puder sair de casa, ela já sabe o que quer fazer: "A primeira coisa é visitar as pessoas que eu amo, meu sogro, minha sogra, minha mãe e meu pai. Depois quero treinar num campo. Dar um pique de um lado a outro, ao ar livre".
Sobre a autora
Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.
Sobre o blog
Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?