Canoagem ajuda mulheres na reabilitação do câncer de mama
O ano era 2014 e a nutricionista Larissa Lima estava treinando para o campeonato mundial de canoa polinésia quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama. "Na época, parei tudo e fui me tratar", conta ela.
"Eu sempre fui atleta. Comecei com handebol e depois passei para corrida de montanha, bike e corrida de aventura. É um evento multiesportivo que envolve percorrer um caminho com mapa e bússola. Tem que passar por alguns pontos e realizar várias modalidades esportivas na mesma prova. Eu era especialista na prova de 500 km", lembra.
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Mas quis o destino que o esporte continuasse na vida de Larissa mesmo após o câncer. No mesmo 2014, a argentina Adriana Bartoli veio ao Brasil em nome da IBCPC (International Breast Cancer Paddlers' Comission), associação internacional que fica no Canadá e reúne equipes de canoagem formadas por mulheres sobreviventes do câncer de mama.
"Adriana passou pelo Brasil em missão: ela queria formar equipes na América do Sul e, coincidentemente, se encontrou com o meu treinador. Montamos, então, uma equipe multiprofissional e criamos um protocolo para reunir mulheres que estavam em tratamento ou que já haviam passado pelo câncer de mama", conta Larissa, que lançou então o projeto Canomama, em Brasília. "Foi muito importante para o meu tratamento."
A iniciativa de incentivar mulheres que tiveram câncer de mama a remar partiu do médico Don McKenzie, fisiologista do exercício da equipe de canoagem do Canadá. "A mulher dele teve câncer há 20 anos. Mas esse tipo de exercício era um tabu, era quase unanimidade entre os médicos que não era viável", conta Larissa.
Christina May Moran de Brito é fisiatra, coordenadora médica do serviço de reabilitação do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de Sao Paulo) e coordenadora do Remama, projeto que funciona em São Paulo, na raia da USP, gratuito para pacientes do Icesp.
"Don McKenzie desafiou o mito de que pessoas que passaram por cirurgias oncológicas não poderiam fazer exercícios de membros superiores", conta ela. "Primeiro começamos remando para desmistificar, informar e chamar a atenção para a importância do exercício fisico para pacientes com câncer. Muita gente achava que não poderia fazer nada."
Os benefícios, segundo a especialista, são enormes. "As pacientes podem ter dor, depressão, fadiga oncológica, distúrbios do sono e transtornos de humor. Remar ajuda em tudo isso e ainda dá bem-estar social. Além disso, conviver com outras mulheres que passaram pelo mesmo problema é muito rico."
Larissa concorda: "É fantástico, converse com qualquer mulher participante e você verá nela alegria de viver, esperança. Porque o tratamento contra o câncer é longo, debilitante e complicado. Afeta a feminilidade e a mulher enfrenta muitas dificuldades, como baixa da libido, ficar careca e até a perda do marido. Tudo isso é muito comum e bastante complexo. Muitas mulheres chegam com depressão e baixa autoestima. Dessa forma, criamos uma rede de apoio que as estrutura psicologicamente. É muito legal. Mesmo quem nunca tinha entrado em uma canoa tem sua vida transformada".
Para essa atividade, é usado barco-dragão, que hoje virou símbolo da luta contra o câncer de mama. O barco comporta 22 pessoas, sendo dez remando de cada lado, uma na frente tocando o tambor que define o ritmo, e outra no leme. O grupo de Brasília ainda não conseguiu, no entanto, comprar esse barco especificamente, mas está tentando encontrar parceiros que possam financiá-lo. Todos que trabalham no projeto são voluntários e o serviço é oferecido às mulheres gratuitamente.
Atualmente, já há centenas de grupos no mundo todo e milhares de mulheres mobilizadas com a canoagem. A IBCPC organiza eventos em que todos se encontram para comemorar a iniciativa. "O último aconteceu em Florença, na Itália. Foi lindo, a cidade ficou pintada de rosa", conta Christina, referindo-se à cor do projeto.
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Mais informações:
Remama
Contato pelo Icesp – Av. Dr. Arnaldo, 251, Cerqueira César, tel. (11) 3893-2000
Apenas para pacientes
Canomama
https://www.facebook.com/canomama/
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