O esporte ensina: corpo perfeito é o seu
Débora Miranda
08/09/2019 04h00
A luta das mulheres mudou. Se antes era contra a balança, contra a celulite, contra as estrias, contra a barriga mole e o bumbum caído, hoje não é mais. A luta das mulheres hoje é para que cada vez mais mulheres se aceitem. Admirem seus corpos e reconheçam sua beleza.
A luta das mulheres mudou e não é mais uma luta contra, é uma luta a favor. Pela liberdade de ser quem somos, do jeitinho que somos, com o encanto que temos. Mesmo que o resto do mundo ainda insista em dizer diferente.
A atleta paralímpica Scout Bassett (Richard Phibbs/Reprodução/ESPN)
E, na semana passada, o esporte deu um lindo exemplo de que a luta mudou para todas. Não apenas para quem não gosta de malhar ou tem tendência para engordar, ou não consegue perder a barriga, ou tem aquela marca que incomoda, aquela cicatriz que tenta esconder. A luta mudou também para as atletas.
Veja também:
- O dia em que eu traí o Corinthians. E gostei
- Neymar, Marta e Carson: o valor de um ídolo que tem valores
- "Não foi loucura", diz surfista que disputou o Pan grávida
A ESPN lançou a edição anual de sua Body Issue, que desde 2009 reúne ensaios fotográficos de esportistas nus –homens e mulheres. A ideia do projeto é "celebrar o incrível poder da forma atlética", associando o corpo às histórias de superação de atletas em suas áreas de atuação. A intenção é que eles "compartilhem não apenas sua força, mas suas vulnerabilidade".
Um projeto ousado e corajoso, mas que completa uma década de existência mostrando, justamente, que a luta mudou. Os ensaios — com fotos lindíssimas, como as que ilustram este post — sempre foram inclusivos e diversos, mas os corpos exibidos na primeira edição, de 2009, são bem diferentes dos que foram fotografados agora.
Serena Williams na edição de 2009 (James White/Reprodução/ESPN)
Muita magreza e muitos tanquinhos. A deusa Serena Williams foi uma das convidadas a inaugurar o projeto. A tenista, que, mesmo em sua melhor forma física, sempre esteve longe de ser esquálida, revela pouco no ensaio, apesar de a ideia ser um nu. Na maior parte das fotos, esconde o corpo atrás das pernas cruzadas.
Acontece que, na medida em que a luta mudou, o mundo foi se transformando. E ano a ano a ESPN passou a abrir mais espaço para belezas fora dos padrões. Simplesmente porque pessoas diversas existem em todos os lugares — e no esporte não é diferente. Há modalidades, inclusive, que exigem peso, que exigem força em partes do corpo que não podem ser magras.
A edição de 2019 vem coroar essa transformação, não apenas entre as mulheres, mas também entre os homens (os jogadores do Philadelphia Eagles, time de futebol americano, não me deixam mentir, posando em fotos bem-humoradas com seus corpos fortíssimos e quase rechonchudos).
A ginasta Katelyn Ohashi (Dana Scruggs/Reprodução ESPN)
Abre a série de fotos a atleta paralímpica Scout Bassett, com menos de 1,50 m de altura, seguida pela campeã de crossfit Katrin Davidsdottir, que exibe orgulhosa seu corpo supermusculoso. Tem também a ginasta Katelyn Ohasi, com suas coxas grossas, e a maravilhosa Nancy Lieberman, atleta aposentada do basquete, posando nua aos 61 anos. Tem também magreza, tem também músculos definidos, tem de tudo. E isso é o mais legal.
Cada uma tem suas formas, sua história, seus desafios. E aceitar isso é essencial para entendermos de uma vez por todas que o corpo mais bonito é exatamente o nosso.
Sobre a autora
Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.
Sobre o blog
Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?