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Violência nos estádios: “Qual o problema de fotografar uma bunda gostosa?”

Débora Miranda

15/03/2020 04h00

O caso de um homem flagrado no jogo entre Botafogo e Paraná, na última terça-feira, filmando e tirando fotos da bunda de uma mulher de shorts que estava em sua frente incendiou uma vez mais a discussão sobre assédio nos estádios de futebol. Muita gente se indignou. Outros encararam com naturalidade e bom humor. A maior parte homens, obviamente.

"Qual é o problema de fotografar uma bunda gostosa?", questiona um comentário no Twitter. "Sinal que o jogo estava um tédio e que ela era bonita e estava em local público", analisa outro.

Torcedor flagrado dando zoom na bunda da mulher que estava de shorts à sua frente (Reprodução)

O rapaz foi exposto na internet por outro homem que estava no estádio e que publicou no Twitter um vídeo dele dando zoom na bunda da moça à frente. Assim que caiu na internet, as imagens viralizaram.

Surgiram, imediatamente e como já era esperado, cidadãos de bem de todos os cantos para questionar que o futebol está muito chato, não se pode mais fazer nada, qual é o problema?, o moço só queria guardar o vídeo para distribuir aos amigos ou mesmo para se masturbar depois (sim, houve isso), a moça devia é se sentir feliz pois ele a achou bonita. E por aí vai.

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Embora muita gente ainda acredite que mulher que vai de shorts para o estádio "quer alguma coisa" (eu já discuti isso aqui), que a obrigação era dela de se dar ao respeito e mesmo que ela mereceu ou gostou de ser filmada, trago novidades a vocês: isso é violência.

Violência não é apenas agressão física. Não é só dar um tapa ou um soco em alguém. Violência também é a "ação de constranger física ou moralmente uma pessoa para submetê-la aos desejos de outra". É violento, sim, explorar o corpo de uma mulher –para qualquer finalidade que seja, sua diversão, sua masturbação ou porque o jogo estava um tédio– sem que ela consinta.

Há um projeto de lei, já aprovado no Senado e que agora está na Câmara, que inclui no Estatuto do Torcedor cláusulas contra o assédio. Segundo o site do Senado, "caso a prática de assédio ou violência contra alguma mulher seja detectada antes de o torcedor entrar no recinto, então será vedada a entrada dele. Também deverão ser expulsos ou impedidos de entrar os torcedores que estiverem com cartazes ou bandeiras com mensagens misóginas, ou que entoem músicas ou cânticos que desrespeitem as mulheres. Por fim, o texto ainda explicita que caberá à segurança dos eventos assegurar às torcedoras proteção contra ações que lhes causem riscos de morte, lesões, sofrimentos físico, sexual ou psicológico, e contra danos moral ou patrimonial". SOFRIMENTO FÍSICO, SEXUAL OU PSICOLÓGICO.

O futebol está chato? Se a sua diversão quando vai ao estádio é assediar mulheres, está chato, sim, e vai ficar pior.

O que fazer ?

O homem que divulgou as imagens do rapaz que fotografava a moça sem permissão também foi bastante atacado nas redes sociais. Depois que o vídeo viralizou, foi cobrado por uma atitude mais efetiva para impedir que a situação tivesse continuidade.

Muita gente dizendo que ele deveria ter avisado a moça e até mesmo agredido o rapaz. "Na hora fiquei sem reação, minhas pernas tremeram. Mostrei para a minha namorada, e ela ficou em choque. Fique me perguntando o que fazer ali, até que ela disse para eu não fazer nada porque estava com medo do cara", disse ao UOL Esporte Gustavo Marinho, que é estudante de publicidade no Rio e torcedor do Botafogo. Ele afirmou, ainda, que ficou com medo de causar um tumulto no estádio.

Eu consigo entender tudo isso. Violência não resolve nada, e nunca é bom interpelar desconhecidos fazendo cobranças a respeito de seu comportamento. Afinal, não sabemos como a pessoa pode reagir.

Mas, de fato, é sempre bom tentar avisar a mulher que está sendo vítima de uma situação como essa, mesmo que de forma discreta. Se bater o medo, chame um policial, ou se informe se o clube para o qual você torce tem ouvidoria ou departamento de denúncias de abuso contra a mulher. Alguns times no Brasil já estão preparados para esse tipo de problema.

Ninguém tem que fazer justiça com as próprias mãos, mas é bom que, num ambiente ainda tão inóspito para as mulheres, como são os estádios de futebol, possamos contar com a ajuda de quem enxerga que o bumbum alheio não está lá para matar o tédio que o futebol pode estar causando.

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Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?