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Débora Miranda

7 lições que aprendemos com o esporte feminino em 2018

Débora Miranda

27/12/2018 04h00

Este ano foi bastante movimentado e polêmico no universo esportivo. Mas, revendo os assuntos que discutimos por aqui, percebi que foi um ano igualmente marcante, cheio de denúncias, de bastas e de superação. Houve protestos, houve broncas, mas também houve alegrias.

Ficam aqui 7 lições que aprendemos com esporte e mulheres neste ano.

E que em 2019 a gente possa colher os frutos de tantas sementinhas contra o abuso e o preconceito plantadas neste ano.

Feliz Ano Novo!
Seguimos juntas!

*

  1. Lugar de mulher –também no esporte– é onde ela quiser

Não existe mais "esporte de homem". E, para garantir isso, há muitas mulheres cheias de coragem, disposição e talento por aí. Surfista, skatista, piloto, boxeadora, faixa preta de jiu-jitsu, craque do freestyle, saltadora de penhasco. As barreiras estão sendo vencidas dias a dia, os limites estão sendo superados, e o preconceito está ficando para trás. Nem sempre é simples. Nem sempre há reconhecimento ou apoio. Mas é preciso ocupar espaços, um dia de cada vez.

Jacqueline Valente salta de penhascos de 20 metros de altura (Dean Treml/Reprodução/Instagram)

E a Copa do Mundo deste ano mostrou isso. Iva Olivari, gerente da carismática seleção croata, foi uma das poucas mulheres que pisaram no gramado do Mundial. Em um cargo estratégico, geralmente reservado aos homens, ela ensinou ao mundo o valor da diversidade no futebol.

  1. O esporte cura

O esporte já é naturalmente transformador, mas quando envolve uma história de superação de limites físicos e de saúde beira o mágico. Atletas com deficiências nos dão mostras diárias de que são super-heróis da vida real. Quem não se lembra das 13 medalhas olímpicas de Adria, a maior atleta paralímpica deste país, que aos 18 anos já não enxergava absolutamente nada? Há, ainda, as mulheres que venceram (ou estão enfrentando) o câncer de mama e que se unem na canoagem.

Projetos ajudam na reabilitação de mulheres que enfrentaram ou ainda enfrentam o câncer de mama (Arquivo Pessoal)

A jovem Verônica Hipólito, que teve três tumores no cérebro e um no intestino e só pensa em voltar a correr. Ou mesmo a comovente história de Silvia, que passou ao filho Nickollas sua paixão pelo Palmeiras. O menino é cego e acompanha os jogos, no estádio, por meio da narração da mãe.

  1. Denunciar para vencer

2018 foi o ano em que mais se discutiu abuso sexual e assédio no esporte. A Copa da Rússia teve episódios chocantes de assédios a torcedoras e a repórteres, muitas delas beijadas à força. No Brasil, as jornalistas se uniram contra a violência e lançaram o manifesto #deixaelatrabalhar, pregando respeito ao trabalho das profissionais mulheres no esporte.

A jornalista colombiana Julieth González Therán foi agarrada e beijada em Moscou (Reprodução)

Além disso, 350 ginastas –garotas e garotos– denunciaram o médico Larry Nassar nos Estados Unidos por abuso sexual. Ele acabou condenado a 125 anos de prisão. O Brasil viveu drama semelhante, mas final bastante distinto. Quarenta atletas e ex-atletas acusaram o ex-técnico da seleção brasileira masculina de abuso sexual. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) apenas anunciou a suspensão do treinador por 1.500 dias e pagamento de multa de R$ 300 mil à CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).

  1. Feminismo na arquibancada

Na medida em que a presença feminina cresceu nos estádios de futebol, as arquibancadas começaram a ser vistas como espaços de diálogo e de luta da mulher. Surgiram, em todo o Brasil, movimentos feministas que vêm fortalecendo o amor das mulheres pelo futebol e buscam garantir atuação e reconhecimento delas nesse universo.

Enquanto isso, no Irã, as mulheres seguem banidas dos estádios. Apaixonadas pelo esporte, elas lutam como podem para reconquistar o direito de assistir a uma partida ao vivo. O movimento Open Stadiums é um dos que batalham internacionalmente para que as organizações do futebol se mobilizem em prol da liberdade feminina.

Iraniana se emociona em jogo da Copa do Mundo da Rússia (Fifa)

  1. Mulher pode narrar futebol, sim!

Uma das maiores alegrias que a Copa do Mundo promoveu foi poder ouvir mulheres narrando jogos e gritando gols, mostrando que entendem –e muito– de esporte e que podemos nos emocionar da mesma forma com suas narrações esportivas.

  1. Esporte não tem idade

Há quem passe a vida se exercitando e chegue à terceira idade na melhor forma física possível, como se o tempo não tivesse passado. Mas há muitas mulheres que dão lições de coragem e superação ao decidir vencer medos e limites após os 60 anos. Quando chegou a essa idade, Rosangela Bacima da Silva decidiu comemorar correndo uma prova de 56 km. Já Yone Maria Domingues reuniu determinação e foi aprender a nadar depois dos 70.

Yone comemora sua evolução com o professor Rafael Penninck de Miranda (Débora Miranda/Extraordinárias)

  1. Não dançamos twerk. A não ser que queiramos

Depois de fazer um discurso lindo e emocionado, incentivando meninas a acreditarem no sonho de jogar futebol, a jogadora norueguesa Ada Hegerberg, então eleita a melhor do mundo, teve de ouvir uma gracinha do DJ francês Martin Solveig. Ele perguntou se ela não queria dançar twerk –que consiste basicamente em mexer quadris e bumbum– no palco da premiação. A atleta apenas lamentou e, educadamente, declinou, deixando o DJ com a pecha de machista. Fina, é Ada quem nos deixa a última lição do esporte neste 2018:

A mulher pode até dançar no palco. Se quiser. Quem decide é ela. Mas qualquer profissional está interessada em: reconhecimento e respeito. Fica a dica!

Ada Hegerberg comemora a Bola de Ouro de melhor jogadora do mundo (Christophe Ena/AP)

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?